terça-feira, outubro 24, 2006

HISTÓRICO DA CÂMARA MUNICIPAL DE ITABAIANA

A História da Câmara Municipal de Itabaiana se confunde com a história do município desde que suas terras foram elevadas à condição de Vila em 1698, como conseqüência de Portaria de D. João de Alencastro de 20 de outubro de 1997.
Instalava-se ali,o parlamento itabaianense que teria dias de glória no futuro como por exemplo quando seus vereadores levantaram-se contra as imposições da Capitania da Bahia que, após o Decreto Régio de D. João VI, Príncipe Regente, de 08 de julho de 1821, e que criava a Capitania de Sergipe D'El Rey, o Governo daquela Capitania quis arremeter contra a nova, indicando um Governador, num claro desacato às ordens régias e à vontade do povo sergipano. Foi a Câmara de Vereadores de Itabaiana a primeira na jovem Capitania a se levantar contra tal arbítrio no que foi apoiada naturalmente por todas as demais que então faziam parte da nova Capitania de Sergipe D'El Rey.
Em 1822, com a Independência do Brasil de Portugal, as Capitanias seriam transformadas em Províncias e a Província de Sergipe d'El Rey foi durante anos abastecida em sua Assembléia Provincial (Assembléia Legislativa) de figuras importantes que fizeram estágio como Edis na Câmara Municipal de Itabaiana.
Em 1936, na primeira eleição municipal com separação entre os Poderes Executivo e Legislativo, a Câmara Municipal ganharia a composição que perdura até hoje, mudada apenas em número de representantes do povo Itabaianense. Até em 1936, o Intendente - administrador do Município - era encolhido pelos vereadores e, quase sempre coincidia com o cargo de Presidente da Câmara Municipal. A partir daí, passou a existir a eleição para vereadores e Prefeito Municipal, que é chefe do Executivo.
No dia 02 de Julho de 2004 foi inaugurada a nova sede da câmara com o deslocamento democrático para a região sul da cidade. A casa Legislativa conta atualmente com suas atividades situada à Rua Sebastião de Oliveira nº 04 no Bairro Marianga.
ANAIS DA CÂMARA MUNICIPAL DE ITABAIANA- SE

Nos anais da Câmara Municipal de Itabaiana está a história do Município, fundado em 20 de outubro de 1698, o segundo do Estado de Sergipe.
A Câmara Municipal de Vereadores de Itabaiana, Estado de Sergipe, está entre as cinco mais antigas do Estado, onde as primeiras são pela ordem, São Cristóvão (1590), Itabaiana, Lagarto, Santo Amaro e Santa Luzia, todas de 1697. sendo que a de Itabaiana somente seria instalada em 1698;as demais em datas bem posteriores.
Sua instalação ocorreu em data imprecisa de 1698 por Decreto de 20 de outubro de1697, e a dificuldade em levantar documentos ao longo dos séculos é enorme, devido inclusive às várias mudanças de regime ao longo destes três séculos.
Até 1820, a pro-Capitania de Sergipe, além de fazer parte do território colonial português, por sua vez também estava sob o governo da Capitania da Bahia. Sua independência da Capitania da Bahia em 08 de julho de 1820, por Decreto Régio, logo teria afetada por outra novidade qual seja a Proclamação da Independência do Brasil, em 07 de setembro de 1822 transformando as antigas capitanias em Províncias, as quais assim permaneceram até 1889, quando da Proclamação da República.
Tanto no Império (1822-1889), quanto na República (de 1889 até os dias de hoje) as várias constituições a que foi submetido o país em muito modificou a situação, quer das Províncias/Estados, quer dos Municípios.
Com a Independência do Brasil em 1822, pouco modificação houve na forma de administração municipal e os Municípios permaneceram tendo como base legal as Posturas Municipais que eram aprovadas pelas Assembléias Provinciais.
A mudança começa a ocorrer a partir de 1889 com o estabelecimento do Conselho de Intendência no qual seu presidente, o Intendente era o administrador. Antes, não havia o Conselho de Intendência e sim o Conselho Municipal, também formado pelos Vereadores, e seu presidente era quem administrava o Município.
Daí a inexistência de leis municipais até 1889.
Somente em 1936, apesar do malogro da Constituinte daquele ano, é estabelecido o atual sistema com dois poderes municipais - o Legislativo, exercido pela Câmara Municipal; e o Executivo, exercido pelo Prefeito.

terça-feira, outubro 17, 2006

PAISAGEM E (ECO)TURISMO – UMA DISCUSSÃO SOBRE A SERRA DE ITABAIANA/SE
Luiz Carlos de Menezes[i]
Fernanda dos Santos Lopes Cruz[ii]
Maria Augusta Mundim Vargas[iii]
Universidade Federal de Sergipenandalopescruz@bol.com.br
A PAISAGEM
Várias áreas da ciência estudam a paisagem, dentre elas a ecologia, a geografia, a biologia, a antropologia, a sociologia, possibilitando a compreensão dos fenômenos da natureza e as relações de interdependência entre os sistemas natural e cultural. As informações científicas são fundamentais no momento de intervir sobre os atrativos turísticos, os atrativos naturais, seja para usa-los turisticamente, ou para preservar a sua integridade (BOULLÓN, 2002). Ambas as vertentes estão postas na discussão sobre a Serra de Itabaiana, ou seja, o uso sustentável através do ecoturismo ou a sua preservação irrestrita. A definição das qualidades estéticas de uma paisagem perpassa por avaliações subjetivas, em que se busca a apreciação de sua beleza. Mas como essas avaliações acontecem no pensamento de cada indivíduo conforme a sua capacidade perceptiva e seus gostos pessoais, “[...] é muito difícil generalizar, porque o conceito de beleza varia de uma cultura para outra e, dentro de cada cultura, de individuo para individuo”. Todavia, considerando a “[...] a paisagem uma qualificação estética outorgada aos elementos que constituem o meio ambiente natural, entendemos que o procedimento natural para defini-la de modo sistemático a começar por um conhecimento o mais objetivo possível do meio que lhe serve de base” (BOULLÓN, 2002, p. 116/117). A paisagem pode ser percebida através de dois enfoques: o enfoque científico que corresponde à descrição e análise dos elementos da paisagem e suas inter-relações e o estético, ou seja, a imagem criada, seja ela pintada, fotografada ou observada por um indivíduo comum (o turista, por exemplo), que não depende do conhecimento detalhado e profundo dos seus elementos. Neste trabalho foi reservado ao “[...] termo paisagem a interpretação que depende da informação visual simples e [...] geossistema ou criptossistema ao enfoque científico dessa paisagem” (BOULLÓN, 2002, p. 118). Em estudo pioneiro, Cunha (1993) aborda a Serra de Itabaiana como um geossistema e, de acordo com essa metodologia, os níveis subseqüentes ocorrentes na Serra são os geofácies de mata atlântica, cerrado, mata ciliar, restinga, campo rupestre e um geótopo, onde há a ocorrência do Podocapus sellowi. A serra de Itabaiana situa-se na porção central do Estado de Sergipe, a cerca de 40 km da capital, e seu topo com alinhamento geral N/S, alcança a altitude de 669 m. Sua vertente Leste, mais suave, é drenada por várias nascentes com cascatas, corredeiras, cavernas e vales encobertos por matas de galeria que percorrem perpendicularmente uma sucessão de formas vegetais: campo rupestre, cerrado, restinga e mata atlântica. Sua vertente oeste constitui um paredão abrupto que faz descortinar a paisagem sertaneja. Essa diversidade de feições e ecossistemas justifica o cuidado especial e restrições de uso, ratificado ainda, pelo cenário de degradação ambiental já instalado.

A ESTÉTICA DA PAISAGEM DA SERRA
Além da diversidade geossistêmica propícia para a realização de estudos científicos na Serra, sua diversidade de elementos é capaz de sensibilizar e despertar a percepção estética da paisagem pelo observador comum. Boullón (2002, p.133/136) aponta três fatores auxiliares para decifrar, de uma forma geral, as qualidades estéticas de uma paisagem e que facilitam a identificação do potencial (eco) turístico de determinada paisagem, ou seja, as suas características e os traços mais significativos que podem despertar a percepção e/ou interesse do visitante, a saber: a estrutura, a forma nítida e a diferenciação. A estrutura constitui a distribuição, disposição e organização das partes que integram o cenário que se observa, geralmente determinado pelo relevo, considerado elemento principal de visualização e identificação de uma paisagem meso ou micro. No caso da Serra, o meso-relevo, juntamente com o clima, determinam as condições de vida vegetal e animal e o uso e ocupação do solo formando a característica básica da paisagem nas vistas panorâmicas abertas e de longa distância, ou macro-paisagens. Já o micro-relevo diz respeito aos campos visuais de curta distância, quando se entra em um ambiente fechado (bosque, pequeno desfiladeiro, vale encoberto por mata ciliar, etc), ou quando o campo de visão abarca determinado elemento ou grupo de elementos próximos, mesmo em paisagens abertas. As formas nítidas são as partes mais visíveis e identificáveis que qualificam o tema da paisagem, podendo ser o cume de uma montanha, um afloramento rochoso, um lago, uma cascata, uma aglomeração vegetal, dentre outros, dependendo da amplitude do campo visual e do que se quer observar. A diferenciação corresponde à relação entre a paisagem e o observador. Ao se penetrar em uma paisagem complexa com grande diversidade biótica e variedade de estruturas e formas, a diferenciação é fundamental para estimular a percepção e a formação de uma imagem do cenário observado. Ao contrário, formar-se-á uma imagem fraca e confusa pouco contribuindo para a sensibilização e o conhecimento do observador sobre a paisagem. O geossistema da Serra apresenta uma diversidade de elementos que possibilitam a percepção e a criação de vários quadros de cenários paisagísticos pelo visitante. Para a interpretação da paisagem procedeu-se à sistematização da análise em quatro grandes unidades paisagísticas que se constituem contribuição deste trabalho ao conhecimento da Serra de Itabaiana, ao entendimento de seu valor patrimonial e ecoturístico. São elas: o topo da Serra, o campo visual voltado para a vertente Oeste, o campo visual voltado para a vertente Leste e os vales e interior dos leitos dos riachos que drenam a vertente Leste. Pelas características estéticas de cada uma (estrutura, formas nítidas e diferenciação), entende-se por unidade paisagística, “os componentes de uma cena que proporcionam equilíbrio visual” (BOULLÓN, 2002, p.129). O topo da Serra é caracterizado por um relevo rochoso, plano a suave ondulado, com solos rasos, proporcionando campos visuais pequenos, médios e grandes. A vegetação de campo rupestre é predominante, mas observa-se alguns relictus de mata atlântica próximo a vertente leste, onde surgem várias nascentes. Já próximo ao paredão da vertente Oeste, predominam as cactáceas. Para se chegar até o topo existem várias trilhas, a do “Lado Oeste”, a dos “Cavalos” e a “Via Sacra” são as mais utilizadas. Essas trilhas são os elos dos elementos culturais do topo onde foram construídos torres de transmissão, uma estrutura para a geração de energia eólica e uma pequena igreja com um cruzeiro, palco de manifestações religiosas. O campo visual da vertente Oeste corresponde a segunda unidade paisagística, pois dele descortina-se um conjunto de serras residuais visualizadas ao fundo da paisagem. Na base da Serra, avançando-se sobre o paredão, visualiza-se com um ângulo privilegiado um cinturão de mata, porém, a visão mais ampla é dominada pela ausência de cobertura vegetal nativa em que áreas desmatadas se intercalam com pastos e plantações. A cidade de Itabaiana, alguns povoados e o mosaico de pequenas propriedades agrícolas conformam os elementos culturais da paisagem. Todavia, o destaque é possibilitado pelo cenário contemplativo através de combinações desses elementos com o tombamento do sol sobre esta paisagem. O campo visual da vertente Leste corresponde a terceira unidade. Dele se obtém uma visão panorâmica cujo limite é o oceano Atlântico que forma uma linha tênue com o azul do céu, de onde é possível também, apreciar o nascer do sol e da lua. No campo de visão médio percebe-se ondulações e desníveis do relevo, o maior adensamento da vegetação e das matas ciliares entremeadas pelo tom de verde mais claro dos canaviais e pastos. A cidade de Aracaju e vários outros sítios urbanos podem ser observados, com destaque para a barragem Jacarecica e a cidade de Areia Branca localizada na base desta vertente. A quarta unidade da paisagem corresponde aos vales, ao interior dos leitos e à mata ciliar da vertente Leste. Apresenta um conjunto de micro-relevos cujo campo de visão se fecha acompanhando os leitos encobertos por mata ciliar que se abrem nas rupturas onde se formam cachoeiras, ou então, quando o visitante alcança as margens. Ressalta-se a diversidade de estruturas e formas nítidas, como também, a variedade de pequenas estruturas e formas menos perceptíveis no percurso dos vales e leitos dos riachos. São perceptíveis diversas micro-paisagens merecedoras de detalhamento interpretativo. Quanto a morfologia, os quatro riachos da vertente Leste apresentam leitos encachoeirados com bacias de acumulação que formam piscinas naturais de diversos tamanhos, geralmente com pouca profundidade e propícias para banho. Somando-se a isso, o percurso dos leitos atravessa ocorrências sucessivas de campos rupestres, cerrado e restinga, envoltos por matas de galeria cujas densidade e heterogeneidade variam de acordo com a morfologia mais ou menos encaixada dos vales. A toponímia dos riachos, cavernas e cachoeiras dos seus leitos têm histórias e lendas que misturam o real com o imaginário, demonstrando o significado e a importância da Serra como um lugar que sempre fez parte do cotidiano da população local. O Riacho dos Negros é o mais conhecido e procurado para práticas culturais lazer e recreação, pois nele estão o Salão dos Negros, um anfiteatro de aproximadamente 50m², o Poço das Moças, local de rituais de batismo e passagens de várias religiões, um dos mais belos do conjunto da Serra. Outras cachoeiras destacam-se em seu leito, tais como do Buraco e Véu da Noiva. O riacho Coqueiro é o único que não nasce no topo e sim, próximo à base na vertente Sul, envolto por mata atlântica. Pela facilidade de acesso, é o mais procurado para a realização de cultos afros e de outras religiões e também o mais degradado, sendo comum em suas margens desmatamentos e deposito de entulhos. No riacho Água Fria ocorrem as cachoeiras Torta, Verde e o Grotão. Este, em verdade, trata-se de um local onde vivia um homem solitário. Logo abaixo, a Pedra da Árvore destaca-se em suas margens constituída por um matacão suspenso que foi separado da camada rochosa pelas raízes de uma árvore. No riacho Vermelho também ocorrem várias cachoeiras. A da Igreja e do Lado que formam um conjunto com o templo da Serra, e as cachoeiras do Caixão e da Oiticica Velha destacam-se pela morfologia. As ruínas da ponte do antigo acesso para a cidade de Malhada dos Bois sobressaem como um marco histórico em seu leito.

PAISAGEM E O LUGAR NO ECOTURISMO
O ecoturismo como uma “viagem” de retorno à natureza e/ou como um novo olhar em que se busca a interpretação e a interação com a paisagem, a valorização da diversidade de culturas e como, um novo estilo de desenvolvimento, vem se afirmando como um contraponto ao processo de degradação da paisagem e do lugar. Segundo Santos (1979) “a paisagem é um conjunto heterogêneo de formas naturais e artificiais, formada por frações de ambas, seja quanto ao tamanho, volume, cor, utilidade, ou por qualquer outro critério (...) podendo essa paisagem ser artificial, “aquela transformada pelo homem”, como também, natural, aquela ainda não mudada pelo esforço humano. Segundo Pires (1996) e Beni (2002) a paisagem é uma categoria de percepção do ambiente criada pelo homem que pode ser definida como domínio do visível, ou seja, aquilo que a vista abarca. O homem mantém contato com a paisagem através da percepção sensorial, classificada em dez modalidades: a visão, a audição, a pressão, o tato, a temperatura, a sinestesia (o sentido muscular), a dor, o paladar, o olfato e o sentido químico comum. “A paisagem contém todos os tipos de energia necessários para estimular as dez modalidades sensoriais [...], que se combinam na percepção. A visão é a mais complexa e a mais importante” (BENI, 2002, p. 394). A paisagem exprime a realidade de um determinado lugar que elaborada por um observador pode adquirir expressões plástica, estética, poética, ética, espiritual e/ou quantitativa.através de uma leitura concreta, objetiva e analítica (científica) dos elementos que a compõem ou através de uma leitura interpretativa subjetiva motivada por fatores culturais, sentimentais, emotivos, afetivos, sensitivos, dentre outros; ou de ambos os casos conjuntamente. A leitura objetiva é atravessada pelos métodos analíticos para descrever os seus elementos e, a leitura subjetiva é uma experiência única, pessoal e exclusiva do observador e que não será a mesma em outro determinado momento (PIRES, 1996 e BOULLÓN, 2002). Assim, entendemos também a paisagem como sendo um instante fotográfico captado pelas lentes dos nossos olhos num momento especial que, registrado na nossa memória conforme a qualidade e interação entre o observador e a paisagem. É a possibilidade de sensibilização, de estímulo a uma outra percepção, de provocar uma mudança de atitude na relação dos homens entre si e com o planeta que torna a paisagem um instrumento, uma força de religare (MORIN, 2001), um componente essencial do ecoturismo. Para Veras (1995), a abordagem da paisagem pode ocorrer de três maneiras: primeiro como um sistema determinado pela inter-relação de seus elementos concretos, naturais e/ou culturais. Segundo, entendendo-a como expressões metafóricas sensoriais e, terceiro, compreendendo-a como a inter-relação destas abordagens, ou seja, conceituá-la como um produto da interação do homem com o seu meio (urbano, regional, rural, natural). Dessa forma, a paisagem apresenta como condições de existência o suporte físico-geográfico, que possibilita materializar as relações sociais construídas historicamente, manifestando a diversidade cultural expressa pelos elementos estético-sensoriais inerentes a cada grupo social. Já o lugar é a teia de relações humanas com a natureza de determinado grupo social no plano do vivido que garante a construção de uma rede de significados e sentidos tecidos pela história e pela cultura, produzindo o sentimento de identidade e de pertencimento, “[...] posto que é aí que o homem se reconhece porque é o lugar da vida. O sujeito pertence ao lugar como este a ele [...]” (CARLOS, 1996, p. 29). No lugar, para Veras (1995, p. 119-127), “percebe-se nitidamente o conjunto de características que lhe impõem específica caracterização e importância simbólica, resultante de sua própria relação com a paisagem, num permanente processo de troca, [...] definido por uma determinada sociedade que tem seus valores, cultura e história próprios”, cuja complexidade apresenta-se como um desafio pela necessidade de se inter-relacionar as dimensões sociais, culturais e ambientais. Assim, as experiências simbólicas têm a faculdade de interagir o natural e o cultural, o sonho e a realidade, consciente e inconsciente. “É aí que a paisagem, por possibilitar estas leituras relacionais, pode ser considerada uma metalinguagem para identificar o lugar. O lugar tem na paisagem uma das formas de expressar a vida que palpita, indicando um mundo de idéias, valores e significados” (VERAS, 1995, p. 132). Ainda segundo a autora, o lugar, por assumir uma posição de apropriação consciente, permite uma interação entre espaço e o sujeito observador / interventor, que vai transformá-lo em algo que lhe pertence, ou algo de que se sinta fazendo parte. Quando se considera determinada paisagem um lugar, automaticamente se deixa de ser um simples observador (o “forasteiro viajante”) e passa-se a fazer parte do cenário apreciado: na paisagem observo, no lugar leio a paisagem e interajo, penetro no cenário e sou mais um elemento a ser percebido por quem não sente este, como um seu lugar, e permanece distante ao observá-lo. O lugar é interação, troca e simbiose com o sujeito observador. O sentido de pertinência e posse, possibilita se estabelecer um diálogo informal, numa dialógica com o universo apropriado (VERAS, 1995, p. 134). Ao buscar estabelecer também um diálogo subjetivo com a paisagem e com o lugar através da interpretação ambiental, da estética, da poética, da interação, da vivência, do aprendizado e do respeito à cultura local, o ecoturismo pode contribuir para a valorização e a conservação da paisagem, fazendo com que os atores locais estimem sua cultura e sintam-se sujeitos do seu lugar, determinem seu próprio desenvolvimento, admirem e cuidem da sua paisagem, criando possibilidades ilimitadas para a reconstrução de uma nova ética ambiental e respeito à diversidade cultural. Nesse sentido, o ecoturismo traz no seu conceito e nos seus princípios a (re) valorização da paisagem e do lugar, em oposição ao turismo tradicional. A prática do ecoturismo depende da paisagem conservada, além de ser um instrumento de educação e de interpretação ambiental, o grande diferencial que o destaca das práticas convencionais de turismo. Ao possibilitar a interação do (eco) turista com a natureza, estimula uma mudança de atitude na relação homem-natureza. Sobre o lugar, o ecoturismo conceitualmente estimula o respeito e a valorização das culturas locais. Uma cultura autêntica é um componente fundamental do ecoturismo, nesse caso, autêntico deve ser lido como soberano, ou seja, as comunidades locais devem estar em posição de poder, e não em posição de subordinação, dispondo de autonomia sobre sua cultura, seus artefatos e rituais, sua própria direção, enquanto se relaciona com culturas que interagem com a sua, sem exploração, e decidem sobre as inovações e as mudanças a serem introduzidas no seu lugar (WEARING e NEIL, 2001).
REFERÊNCIAS
→ BENI, Mário C. Análise estrutural do turismo. 7 ed. São Paulo: Editora SENAC, 2002.→ BOULLÓN, Roberto C. Planejamento do espaço turístico. Bauru, SP: EDUSC, 2002.→ CARLOS, Ana F. A. O lugar do/no mundo. São Paulo: Hucitec, 1996, p. 01-38.→ CUNHA, José Carlos Santos. SERRA DE ITABAIANA: Potencial biogeográfico e perspectivas para preservação e conservação. (Monografia de Graduação em Geografia). São Cristóvão-SE: UFS, 1993.→ MORIN, Edgar. A religação dos saberes: o desafio do século XXI. Rio de Janeiro: Bertrand Brasil, 2001.→ PIRES, Paulo dos Santos. Paisagem litorânea de Santa Catarina como recurso turístico. São Paulo: Hucitec, 1996.→ SANTOS, Milton.Espaço e sociedade. Petrópolis: Vozes, 1979.→ VERAS, L. M. de S. Cavalcanti. Do espaço à paisagem, da paisagem ao lugar. Revista de geografia, Recife, v. 11, n. 2, jul./dez. 1995.→ WEARING, S.; NEIL, J. Ecoturismo: impactos, potencialidades e possibilidades. Barueri-SP: Manole, 2001.

PAISAGEM E (ECO)TURISMO – UMA DISCUSSÃO SOBRE A SERRA DE ITABAIANA/SE
Luiz Carlos de Menezes1
Fernanda dos Santos Lopes Cruz2
Maria Augusta Mundim Vargas3
Universidade Federal de Sergipenandalopescruz@bol.com.br
Entendemos a categoria paisagem como uma metalinguagem capaz de possibilitar leituras relacionais e interagir o natural e o cultural, o sonho e a realidade, consciente e inconsciente. Procedeu-se a análise da Serra de Itabaiana (Sergipe) sistematizada em quatro unidades estéticas que se constituem contribuição desse trabalho para o conhecimento da Serra, para o entendimento de seu valor patrimonial e para a ampliação do campo de reflexão sobre o (eco) turismo. As características de estrutura, formas nítidas e diferenciação foram basilares na análise de cada uma das unidades paisagísticas, ou seja, os componentes de uma cena que proporcionam equilíbrio visual. Foram tomadas como unidades paisagísticas: i) o topo; ii) a vertente Leste; iii) a vertente Oeste e, iv) os vales, leitos e matas ciliares dos quatro riachos ocorrentes na vertente Leste. Ao buscar estabelecer um diálogo com a paisagem e com o lugar, através da interpretação ambiental e da estética da paisagem, o (eco) turismo pode contribuir para a valorização e a conservação da paisagem, criando possibilidades ilimitadas para a reconstrução de uma nova ética ambiental e respeito à diversidade cultural.
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[i] Mestre em Desenvolvimento e Meio Ambiente pelo PRODEMA/UFS. Dissertação intitulada “Uso sustentável da Serra de Itabaiana: conservação ou ecoturismo”.[i] Graduanda em Geografia/UFS, bolsista PIBIC/CNPq[iii] Profª Dra. do NPGEO e PRODEMA/UFS
1 Mestre em Desenvolvimento e Meio Ambiente pelo PRODEMA/UFS. Dissertação intitulada “Uso sustentável da Serra de Itabaiana: conservação ou ecoturismo”.2 Graduanda em Geografia/UFS, bolsista PIBIC/CNPq3 Profª Dra. do NPGEO e PRODEMA/UFS
Itabaiana, o coração de Sergipe


Inicialmente Arraial de Santo Antônio, o município ficou conhecido por sua tradição
no comércio
O início da colonização das terras itabaianenses remete-se a 1590, quando a expedição de
Cristóvão de Barros liquidou os indígenas e iniciou o processo de colonização de Sergipe. Datam dessa época as primeiras notícias de terras doadas a sete lavradores para colonizarem as circunvizinhanças do Rio Sergipe.
A primeira sesmaria é dada a Ayres da Rocha Peixoto, casado com uma neta de Caramuru.
Suas terras atingiam áreas compreendidas entre os rios Japaratuba e Sergipe,correspondendo,dentro de um mapa atual, aos municípios de Itabaiana, Riachuelo e Santo Amaro das Brotas.
É nesse período que ocorre o povoamento e colonização de Itabaiana em grande escala, com a distribuição de terras, notadamente aquelas situadas às margens do Rio Jacarecica.
Os colonos contemplados com tais sesmarias, se espalhando em sítios pelas margens do rio,
vão fundar o Arraial de Santo Antônio, a primeira povoação de Itabaiana. Esse local hoje é conhecido por Igreja Velha, a uma légua do atual centro da cidade, erguendo-se uma capela, fundando a Irmandade das Santas Almas. Esta capela é registrada no mapa de Barleus, durante a invasão holandesa, datado provavelmente de 1641, data em que os holandeses pesquisaram ouro na Serra de Itabaiana.
O local onde se encontra hoje a sede do município, conhecido no século XVI como Catinga de Ayres da Rocha, era primitivamente um sítio de propriedade do pároco de São Cristóvão, padre Sebastião Pedroso de Goes, que vendeu em 9 de julho de 1675, por ‘Rs 60$000’, à Irmandade das Almas de Itabaiana, sob a condição de nele ser reedificado um templo sob a invocação de Santo Antônio e Almas de Itabaiana. Segundo o historiador Sebrão Sobrinho, a intenção do padre Sebastião era ver a concretização da criação da Freguesia de Santo Antonio e Almas de Itabaiana e, para tanto, se fazia necessário que a igreja fosse edificada em terreno próprio. Como a capela de Santo Antonio estava edificada numa fazenda de propriedade particular, jamais a freguesia poderia ser criada.
Com a venda da Caatinga de Ayres da Rocha à Irmandade, foi edificada a Igreja, passando
este lugar a sede da vila, que até então funcionava na Igreja Velha. A povoação foi crescendo e já pelo ano de 1678, Itabaiana era distrito, possuindo paróquia desde 30 de outubro de 1675, permanecendo a invocação de Santo Antonio. A paróquia foi criada pelos governadores do Arcebispado, na ausência do arcebispo dom Gaspar Barata de Mendonça.
A Vila foi levantada pelo ouvidor d. Diogo Pacheco de Carvalho, em 1698, sob a
denominação de Vila de Santo Antônio e Almas de Itabaiana. Em 1727, aparecia como já possuindo sua Câmara representando o município.


ADORNOS DE FANTASIA
Do roteiro de minas de Belchior Dias Moreyra, que andou por Itabaiana logo no início da colonização da capitania, deduz-se que naquela serra se encontravam jazidas de grandes riquezas minerais, sobretudo de metais preciosos. Em seis ensaios ele fazia menção “à prata, ao salitre e ao ouro da Serra de Itabaiana Assu”.
Mas de concreto, nada se pôde colher, tendo Clodomir Silva, no ‘Álbum de Sergipe’, de 1920, se referido como ‘adornos da phantazia’. De fato, segundo o historiador, os informes a respeito da existência das minas baseavam-se na versão do povo e nas informações de parentes e afeiçoados da família do explorador.
A Vila de Santo Antônio e Almas de Itabaiana foi elevada à categoria de cidade em 28 de agosto de 1888, na presidência de Francisco Paula Prestes Pimentel. Na divisão administrativa do Estado, vigorante no ano de 1920, o município continuava como sede da comarca e se compunha de um único distrito. Eram termos da comarca de Itabaiana os municípios de Campo do Brito e Frei Paulo.
Os primeiros documentos que tratam da região apresentam denominações diferentes para o lugar. Os nomes mais freqüentes são Itanhama ou Tabaiana. A forma Itabaiana, parece que se definiu no século XVII. Os holandeses, de quem não se poderia esperar uma grafia muito correta, registraram a forma Itapuana.
Itabaiana, nome indígena, é o resultado dos sufixos Ita (pedra), Taba (aldeia), e Aone (alguém). Tudo junto significa ‘naquela serra tem uma aldeia onde mora alguém’, a palavra pedra refere-se à Serra de Itabaiana.

A LENDA DE SANTO ANTÔNIO FUJÃO
Santo Antônio ‘vivia’ numa casa que não era sua: a primeira capela construída no Arraial de Santo Antônio pelos colonos, na região hoje conhecida como Igreja Velha, fora erguida em propriedade particular. O pároco de São Cristóvão, Sebastião Pedroso de Goes, vendeu o sítio ‘Caatinga de Ayres da Rocha’, em 9 de julho de 1675, à Irmandade das Almas para que nele erguesse a igreja própria para a morada de Santo Antônio.
Segundo comentários, algumas pessoas da comunidade que queriam a mudança da sede parao arraial, retiravam às escondidas o Santo Antônio e conduziam até a Caatinga de Ayres da Rocha, de noite, deixando-o num dos galhos da quixabeira. Para os colonos, era fácil descobrir o paradeiro do santo, já que propositalmente se deixavam pistas.
A ‘fuga’ verificava-se com freqüência. Depois de cada uma delas, a imagem era levada, em procissão, para a capelinha. Não se tem data exata do início da construção da nova Igreja, sabe-se que a Igreja velha funcionou até 1737, mas já sem grande freqüência, porque a transferência do padroeiro significou também mudança da sede do arraial para o outro sítio. Ficou, porém, a lenda do Santo Fujão.

ANTIGA INSTITUIÇÃO MUSICAL DO BRASIL
A Filarmônica Nossa Senhora da Conceição é um desdobramento de uma agremiação musical instituída em meados do século XVIII, denominada Orquestra Sacra. Era um instrumental e Coral da Igreja Matriz da Freguesia e Vila de Santo Antônio e Almas de Itabaiana, da Capitania deSergipe Del Rey.
O grupo foi criado pelo vigário licenciado Francisco da Silva Lôbo e, originariamente, destinava-se principalmente aos atos religiosos. A maior glória da orquestra foi ter como um dos seus membros, como cantor e flautista, o então professor de Latim, Tobias Barreto de Meneses.
Em fevereiro de 1879, o professor e compositor Samuel Pereira de Almeida mudou o nome da orquestra para ‘Philarmônica Euphrosina’, da qual fizeram parte o general José Calasans e um dos mais influentes políticos da região, o coronel José Sebrão de Carvalho. Em outubro de 1897, o maestro Francisco Alves de Carvalho Júnior trocou o nome da instituição para ‘Philarmônica Nossa Senhora da Conceição’. Na época já era considerado como o conjunto musical mais antigo do Brasil, fundado há mais de dois séculos, sem descontinuidade.

ALGUNS FATOS POLÍTICOS
• 1821 - A Câmara de Itabaiana convocou as demais câmaras sergipanas para uma
reunião em São Cristóvão, com a finalidade de eleger o governo provisório.
• 1935 - Foi eleito, pelo voto popular, o primeiro prefeito do município, Sílvio
Teixeira, e vereadores.
• 1941 - Sílvio Teixeira pede exoneração e é substituído por Manuel Francisco Teles.
• 1945 - Luiz Magalhães assume a prefeitura e, no mesmo ano, entrega a Manuel
Francisco Teles.
• 1946 - O município sofre intervenção e Francisco Teles é exonerado.
• 1947 - O governador de Sergipe, José Rollemberg Leite, exonera todos os prefeitos
do Estado. No mesmo ano, uma nova eleição culmina com a vitória de Jason Correia, frente a Euclides Paes Mendonça. Jason empreendeu uma política truculenta contra os adversários políticos.
• 1950 - Euclides Paes Mendonça (UDN), comerciante próspero, finalmente ingressa
na política sob a influência de Otoniel da Fonseca Dória e concorre com Manoel Teles (PDS) à Prefeitura. Vence, e a partir dessa data ocorre sua ascensão política, detendo o poder de forma direta ou indireta.
• 1954 - Euclides apóia Serapião Gois a prefeito e sai vitorioso, derrubando o adversário, o médico Pedro Garcia Moreno. Nesse ano ele também é eleito como deputado estadual.
• 1958 - Euclides vence, outra vez, a eleição para prefeito. Seu adversário foi José
Araújo Tavares.
• 1962 - Euclides candidatou-se a deputado federal e apresentou seu filho, Antônio
Oliveira Mendonça, a deputado estadual. Venceram. No entanto, essa trajetória política ascendente foi abalada quando Leandro Maciel, chefe político da UDN na esfera estadual, perdeu o governo para Seixas Dórea, dissidente da UDN. Sem suporte, Euclides criou uma Guarda Municipal, armada e fardada, que constantemente entrava em choque com as forças estaduais.
• 1963 - Conflito entre a Guarda Municipal e a Polícia. O comandante da guarda,
tenente-coronel Solon, e o da polícia, Major Teles, saíram feridos e foram hospitalizados. Teles acabou morrendo. Essa sucessão de acontecimentos criou um clima de animosidade contra a dominação euclidiana em Itabaiana, cujo agravante foi a questão da água. A Prefeitura não aceitava que uma empresa de fora realizasse as obras no município. Antônio Mendonça resolveu fotografar a manifestação, surgiu então um bate-boca seguido de tiros. Ele e seu pai, Euclides Paes Mendonça, foram assassinados. Segundo os historiadores oficiais, não se sabe ao certo a procedência dos tiros.
• 1964 - Golpe militar, em nível nacional, desintegra o sistema partidário.
• 1966 - Francisco Teles de Mendonça (Chico de Miguel), que era amigo, e não
parente, de Euclides, foi se impondo ao eleitorado. Nesse ano, já na Arena, foi eleito deputado estadual.
• 1968 - Manoel Teles, principal inimigo de Euclides, foi assassinado. O pistoleiro
paraibano, Antonio Letreiro, atirou à queima roupa. Chico de Miguel foi apontado como autor intelectual do crime. Mas nada foi provado.

ALGUNS FILHOS ILUSTRES DO MUNICÍPIO
• José Jorge Siqueira Filho - poeta
• Etelvina Amália de Siqueira - poetisa e jornalista
• José Calazans - general do Exército e primeiro presidente constitucional de Sergipe,
em 1892
• Sebrão Sobrinho - historiador, membro da Academia Sergipana de Letras
• Gentil Barbosa - dono da rede de supermercados G.Barbosa
• Oviêdo Teixeira - grande empresário
• José Carlos Teixeira - ex-deputado federal, ex-vice-governador, ex-secretário da
Indústria e Comércio.
• Maria Thetis Nunes - professora, historiadora, escolhida como a sergipana do
século XX
• Antônio Oliveira - intelectual
• Wladimir Carvalho - juiz do Tribunal de Justiça Federal
• Melcíades de Sousa - artista plástico, cantor e compositor
• Antônia Amorosa de Menezes - cantora
• Alberto Carvalho - advogado, crítico de cinema, poeta e cineasta
• Pedro Garcia Moreno - médico pediatra
• José Crispim de Souza - autodidata e escritor
• José Mesquita da Silveira - dono da casa de força e do 1º cinema

ITABAIANA HOJE
• Região - Oeste (Agreste)
• Distância de Aracaju - 56 km
• População - 76.803
• Atividades econômicas - Grande produtor de mandioca, tomate, batata-inglesa e cebola. O comércio destaca-se em decorrência do grande número de estabelecimentos comerciais, principalmente o de ouro. Também existem pequenas indústrias de calçados, bebidas, cerâmicas, móveis, algodão, alumínio e outros. Destaque para as fábricas de carrocerias.
Créditos a Monteiro Digitações (79) 8814-3173

O Padroeiro
Leia um texto sobre o padroeiro de Itabaiana, do celebre advogado Dr. João Oliveira.

Fernando de Bulhões nasceu em Lisboa, Portugal, no dia 15 de agosto de 1195 e faleceu no Convento Maria de Arcella, perto da cidade de Pádua, na Itália, no dia 13 de junho de 1231. Na qualidade de filho único de Martinho de Bulhões e Teresa Taveira, ele pertencia ao clã dos Bulhões y Taveira de Azevedo. Iniciou os seus estudos muito cedo, porém, somente aos 15 anos entrou no Convento da Ordem dos Cônegos Regulares de Santo Agostinho, em Lisboa. Transcorridos dois anos, pediu transferência para o Mosteiro de Santa Cruz, em Coimbra, porque sua paz estava sendo perturbada com a visita de amigos e parentes. Em Coimbra estudou Filosofia, Teologia e foi ordenado padre. Em 1220, o Padre Fernando, entrou em contato com alguns jovens frades Franciscanos, que posteriormente foram martirizados em Marrocos. Sensibilizado com a morte dos missionários Franciscanos, Fernando resolve entrar para a Ordem dos Franciscanos e adota o nome de Antônio, ficando mais tarde, depois de canonizado, conhecido pelo nome de Santo Antônio de Lisboa ou, ainda, Santo Antônio de Pádua.No final do ano de 1220, Antônio viajou para Marrocos, onde adoeceu e teve de voltar para Portugal, que por motivos dos ventos o navio foi aportar na Cecília perto da cidade de Assis.E ele, ao desembarcar, foi direto para Assis, onde se encontrou com João Batista Bernardone, fundador da Ordem Franciscana, que por sua vez, depois de canonizado, ficou conhecido como São Francisco de Assis.Antes de completar um ano de sua morte, Santo Antônio foi inscrito pelo Papa Gregório IX no catálogo dos santos. Em 1946, o Papa Pio XII o condecorou como Doutor da Igreja, com o título de “Doutor Evangélico”.Atualmente, Santo Antônio de Lisboa, conhecido mundialmente pelos seus milagres, é padroeiro de Portugal, de Itabaiana e outros lugares, mas, não entendo como o nobre Santo veio a ser padroeiro dos caminhoneiros de Itabaiana.Assim sendo, solicitei ajuda do Dr. Kano Karo, cientista japonês e profundo conhecedor do Flos Sanctorum, para esclarecer as minhas dúvidas e, então, me disse ele o seguinte: Diz uma lenda, que São Cristóvão nasceu no século III, filho do rei de Canaã, e recebeu o nome de Ofero. Depois de adulto, sua mania de grandeza era tamanha que passou a servir ao Satanás, acreditando que este era o maior e mais poderoso rei do mundo. Certo dia, ao se decepcionar com o Maligno, ele se encontrou com um velho ermitão que lhe disse que o maior rei do mundo era o Senhor da bondade. São Cristóvão procurou, então, o Cristo, O Salvador, e passou a viver sozinho perto de um rio, onde passavam várias pessoas. Daí então ele tornou-se humilde e, como era dotado de grande força física, pôs-se a ajudar as pessoas a atravessarem o rio. Certa feita ele ajudou a um menino na travessia do rio que dizia ser o Cristo. Depois desse fato, ele adotou o nome de Cristóvão, que em grego se escreve “Cristophoros”, que significa “Aquele que carrega Cristo”.Ocorre, porém, que a Igreja Católica, em 1969, retirou São Cristóvão do Calendário Litúrgico, por não se saber ao certo que o Santo tenha existido. Mesmo assim, São Cristóvão continua a ser muito venerado e festejado no dia 25 de julho.Acredito que os caminhoneiros de Itabaiana, sabedores deste fato, tenham procurado outro padroeiro, e ninguém melhor do que Santo Antônio, pois além de ser padroeiro da cidade, em ocasião nenhuma foi sócio do Satanás.Santo Antônio, sem sombra de dúvidas, é o santo dos milagres. Sua língua, até hoje, se encontra em perfeito estado de conservação. Porém, muitos vivos possuem a língua podre. Segundo a sua traumaturgia, tinha havido um crime de morte em Portugal e todas as suspeitas recaíam sobre o pai de Frei Antônio.Chegou o dia do julgamento. Os juízes estavam reunidos para proferir a sentença condenatória. Assentado no banco de réus se encontrava o pai de Frei Antônio, sem poder se defender.Nesse momento Frei Antônio estava fazendo um sermão em uma igreja na Itália. De repente ele entrou em transe e ficou imóvel, como se estivesse dormindo em pé. Durante esse tempo, em espírito, ele compareceu no tribunal em Portugal, conversando com os juízes, disse-lhes: Por que tanta precipitação? Posso provar a inocência do meu pai. Venham comigo ao cemitério.Os juízes aceitaram o convite. Frei Antônio mandou abrir a cova do homem assassinado e perguntou ao defunto: Meu irmão, diga perante todos, se foi meu pai quem matou você.Para espanto dos juízes e de todos que ali estavam o defunto abriu a boca e disse: Não, foi Martinho de Bulhões quem me matou. E tornou-se a calar.Mas, provavelmente, a história mais interessante sobre o santo é a seguinte: Conta-se que, certo dia, Frei Antônio descobriu que um noviço havia fugido do mosteiro e levado com ele seus comentários sobre o Livro dos Salmos. Ele, então, rezou para o retorno de ambos. Em pouco tempo, o jovem arrependido voltou para a vida religiosa, trazendo consigo os manuscritos.Observe ainda, que além da festa ter sido um grande sucesso, deixando satisfeita a população de Itabaiana, bem como o seu Santo Protetor, é justo que aconteçam outras festas semelhantes, porquanto, durante os acontecimentos festivos ocorrem muitos casamentos.Atualmente, o Santo foi consultado para ser o Padroeiro do Brasil, visto que ele sabe provar a inocência dos inocentes, faz com que os ladrões voltem ao caminho da retidão e tragam consigo o produto do roubo. Até o presente, nesta terra de Santa Cruz, que passou a se chamar Brasil por causa da venda lucrativa de um pau de tinta, ninguém nunca devolveu produto roubo; salvo quando o roubo é de pequeno valor.Depois das explicações do Dr. Kano Karo, fiquei convencido de que, realmente, Santo Antônio é o santo ideal para que todos nós depositemos a nossa fé e nossos pedidos. Assim, quero render congratulações para com os promotores da festa.
Denominações dos Povoados

A ETIMOLOGIA TUPI NAS DENOMINAÇÕES DE POVOADOS EM ITABAIANA
Por: José Wilson Moura Santos
Graduação em Licenciatura de História pela UFS

Os primeiros habitantes de Sergipe como de todo o Brasil foram os índios que nos legaram muito de sua cultura. A sua presença em nosso cotidiano é marcante. Pois, se faz presente na música, na arte, na alimentação, na culinária, nas técnicas agrícolas e entre outros no nosso vocabulário, isto é, no nome do nosso Estado, na denominação de muitas cidades e seus respectivos povoados. A fim de ilustrarmos a sua marcante presença em nosso meio, citaremos a cada semana diferentes nomes de povoados de denominação Tupi e os seus respectivos significados etimológicos que estão a seguir:
Bom Jardim A esse povoado o íncola deveria tê-lo chamado de Üacatu , isto é, üa (roça, sitio, malhada) e catu (bom, boa), que seria Bom Sítio, ou Boa Malhada, ou ainda Boa Roça; a qual locução fora trazido metaforicamente pelo português para Bom Jardim. (SEBRÃO, Sobrinho, Fragmentos de Histórias Municipais e outras Histórias. Vladimir Souza Carvalho(org). Aracaju, Instituto Luciano Barreto Júnior, 2003 , 263).
Cajaíba Vem do Tupi Acayá – yba – árvore: árvore do cajá, cajazeira. (GUARANÁ, Glossário Etymologico dos nomes da língua Tupi na Geografia do Estado de Sergipe. Aracaju, Revista do Instituto Histórico e Geográfico de Sergipe, vol. VIII, n° 13,1929,301)
Caraíbas Vem do Tupi Caray – forte, valente. Nome que os Tupi davam aos brancos(Idem, 1929,303). Contudo, segundo Sebrão Sobrinho o “seu nome íncola, tupi, era Caraübaêté , aportuguesado em Caraíbas, isto é, no plural de Caraíba, pois que êtá , como guê , é sufixo plural, sinônimo de nosso s . Sabendo-se disso, resta, para estudo, o vocábulo Caraíba.”(2003, 271-272). Ainda no mesmo texto, Sebrão afirmou que na língua indígena dos povos da América do Sul existia o “vocábulo composto caraüba , formador dos elementos caraü e ba . O radical caraü , em qualquer língua sul-americana, entre essas, já se vê, o tupi..., a significação de santo, entendido, hábil, superior, sábio, astuto, esperto, atributos que o natural dava aos deuses e, quando o emprestava a um simples mortal, o fazia juntar aos sufixo ba , isto é, aférese de aba , homem, gente.”(Ibid., 272).
Congo Vem do Tupi Cong – particípio passado do verbo engolir. (GUARANÁ, 1929, 304)
Gandú ( ou Guandu) Originário do Tupi Coandú ou Quandú – que é pequeno mamífero da família dos roedores(Idem, 1929, 307). Todavia, Sebrão Sobrinho discordou totalmente de Armindo Guaraná e de Batista Caitano de Almeida Nogueira que em 1879 afirmou que a palavra era de língua guarani aportuguesado. Em sua explanação, explicou que o nome Gandu veio do tupi “ candua ou candu , do qual se originou..., candua ou candu tem o étimo claro: caa (mato) e uâ (caule, grelo, talo, etc.), isto é, mato de ervas, ralo!... Ainda ele propõe, uma outra significação para Gandu: ‘ caa (mato) e u (o ü que o luso atolado transformou em y ) ( rio), isto é, caaú , eufonicamente candu ou gandu : rio do mato.” (2003, 260-261).
Lagoa do Forno Povoado cujo nome deriva de uma lenda diabólica. Devido a isso, esta região foi batizada pelo indígena de Mbucarãe , nome da bela índia casada com o “desditoso príncipe Panema” que num ato de loucura foi induzido pelos atos maléficos de Abaçaü ( Abaçai ) e assassinou Mbucarãe. Quando tomou consciência de si, Panema derramou tantas lágrimas de arrependimento que o local tornou-se uma lagoa que recebeu o nome de sua ex-esposa. Contudo, os portugueses denominaram esta região de Lagoa Bossoranha, depois de Lagoa do Forno. Segundo Sebrão Sobrinho foi traduzido pelo conquistador luso para Bossaranha, e, após, para Lagoa do Forno (2003, 257,258).
Mangabeira Vem do Tupi Mongaba – coisa pegasoja. A palavra mongaba recebeu o sufixo eira do português, que denominaria a árvore da mangaba, a mangabeira. (GUARANÁ, 1929, 313).
Matapoã Deriva do nome original Tupi é Matiapoan . Matü (coisa insignificante) e apoã (arredondada), correspondente a coisa arredondada insignificante (Idem, 1929, 314)
Mundés ( mais conhecido por Rio das Pedras ou Padaria) Vem do Tupi é Monde. Mô-ndé (cobrir, fazer cobrir, o alçapão, a armadilha), segundo Armindo Guaraná (1929, 314). Sebrão Sobrinho ao se referi a Lagoa do Forno e a lenda voltava-se a Mundés, local populoso e imenso, mas também, local em que ocorreu o assassinato da índia Mbuçarãe pelo seu esposo Panema. Por isso, “ao local do crime, foi dado o nome de Mondé (tocaia)”. (2003, 257, 258).
Murici Vem do Tupi Mô-rici – o que da resina, planta de diversas espécies, do gênero Byrsonima, malpighiácea, arvore e arbustos que produzem um tipo de fruto drupáceo, do mesmo nome, de polpa edula, fruto da muriazeira do qual se faz uma bebida apreciada no Norte do país. (GUARANÁ, 1929, 315).
Ribeira Vem do Tupi Ismirim – Is (üs) rio e mirim : pequeno; portanto, rio pequeno ou ribeira. E em relação a serra da Ribeira, temos em tupi Camocimitá : camocim (ribeira) e tta (serra, pedra): Serra da Ribeira (SEBRÃO, 2003, 256).
Sambaiba Vem Tupi, Çaimbe (áspero); yba (árvore), correspondendo a árvore de folhas ásperas, o pau de lixa.(GUARANÁ, 2003, 320). Sebrão Sobrinho expõe que Sambaiba vem do nome íncola Çambambaia , ou seja, planície ondulada, pois se origina de camba (corda) e mbaia (enrolada). (2003, 265).
Serra Vem do Tupi Ita : serra. Porém, antes da sua simplificação pela língua portuguesa, os índios a apelidava-na de Itaendabaçu ou Sítio Grande, que decompõe-se em Ita (serra) e endaba (lugar, povoado, sitio, pouso, estância em que está a coisa, determinativo local); Açu (grande). (SEBRÃO, 2003, 262)
Taboca Procede do Tupi: Ta (haste); boc ou bog (furada, oca) . Portanto, haste furada ou haste oca. (GUARANÁ, 1929, 321)
Tapera Vem do Tupi Tap – forma contracta de Taba (aldeia), oéra (velha, arruinada), ou seja, aldeia velha ou aldeia arruinada.(Idem, 1929, 322).Taperinha do Tupi Tap (taba – aldeia), oéra (velha arruinada), acrescida do sufixo diminutivo inha do português que significaria pequena aldeia arruinada ou pequena aldeia velha. (Ibid., 322).
Tiririca Provem do verbo Tupi Tiriri – cortar, ferir. Planta ciperácea (Idem, 1929, 324).
Terra Vermelha Vem da origem Tupi Tabüpiranga , que é uma contração de taba-übü-pirang . Nome íncola da taba Terra Vermelha. (SEBRÃO, 2003, 293).
Zanguê Procede do Tupi Çam por cama (corda); guê – sufixo plural: as cordas (GUARANÁ, 1929, 326). Sebrão Sobrinho acrescenta ainda que cama (corda) e guê (recíproco de nosso s , como sinal de pluralidade), isto é, as cordas. (SEBRÃO, 2003, 265).
Entre os povoados que constituem a área rural de Itabaiana, citamos aqueles que encontramos como originários do Tupi entre os demais povoados serranos. É claro que o trabalho não se encerra nesta pequena explanação etimológica, pois muito se tem a conhecer sobre a língua Tupi e suas influências em nosso cotidiano.
ITABAIANA: PRESENÇA NA LITERATURA SERGIPANA
Para saber mais sobre a participação da cidade de Itabaiana na Literatura Sergipana, acesse o link http://www.guiadeitabaiana.com.br/_/artigos/itabaiana_na_literatura.pdf
Por Vladimir Souza Carvalho
HINO DA CIDADE DE ITABAIANA


CIDADE DE DEUS
(Edson Dias Santos)
Verdes campos viram lendas e histórias
De um passado de labuta e esplendor
Para sempre ficarão bem na memória
De um povo hospitaleiro e vencedor.
Ele evoca um francês que é Simão Dias,
Nosso filho da coragem e do brio
És o gênio da liberdade!
Uma terra secular e varonil.
Ó serrana és augusta da vontade
Romaris eu sei que hão de te lembrar
O teu povo em epopéias da verdade
Tem em Deus o homem santo a abençoar.
Que nas artes Euterpe te contempla,
Grandes filhos tua alma engrandecer
És o gênio da liberdade!
Terra do ouro, do progresso e lazer.
E o porvir, o arrebol vêm nos mostrar,
Santas almas, a labuta consagrou,
Festejos vêm a ti, exaltam o teu amor,
Nos lares a sorrir o Deus abençoou.
REFRÃO
Ergamos nossa voz, minha augusta serrana
Gritemos o teu nome, Itabaiana!